quinta-feira, 5 de junho de 2008

Astrologia e Relacionamentos - Duas Visões Diferentes

É importante verificarem que muitos aspectos são iguais.

No fundo, no fundo são formas diferentes de se ler um mapa astral e vai muito da colocação do astrólogo na sua visão ampla do mapa, do mundo e dos indivíduos.

Vicente Chagas

VISÃO UM

Introdução

Se a compreensão das características e potencial de uma pessoa através do seu mapa natal pode ser uma tarefa exigente, que exige considerável treino e prática por parte do astrólogo, não será um caso ainda mais exigente a avaliação das características e potencial de um relacionamento através da Astrologia? Afinal, quando consideramos um relacionamento entre duas pessoas, devemos presumivelmente compreender a capacidade de relação (seja ela romântica, de negócios, familiar) de cada participante, bem como considerar como se ligam os mapas e os conflitos.

Penso que se um astrólogo tiver um razoável entendimento da Astrologia natal (no estudo de um mapa natal) é relativamente simples estender essa compreensão à análise relacional entre duas pessoas. Na verdade a análise astrológica da qualidade da relação entre duas pessoas pode muitas vezes ser consideravelmente mais fácil do que uma análise individual.

A razão disto reside na suprema habilidade da psique humana para se entregar a todos os tipos de estratagemas conscientes e inconscientes na defesa do Self. Se uma pessoa experimentar conflitos psicológicos (e muitos de nós experimentamos de uma maneira ou de outra), existe uma tendência a despender considerável energia na projeção de alguns dos problemas para outras pessoas.

Isto pode dar azo a uma considerável distorção daquela parte da personalidade que é consciente, que resulta com uma pessoa (quando passa pelo processo de análise do seu mapa) a aceitar parte da interpretação como verdade, e negando firmemente uma outra parte - "Todos os outros têm essas qualidades boas/más, mas eu não com toda a certeza".

Claro que muito disto depende da habilidade e sensibilidade do astrólogo e do nível de auto-conhecimento do cliente.

Numa relação às projeções e outros mecanismos psicológicos de defesa continuam a ocorrer, mas para um observador distanciado essas situações são muito mais visíveis, visto que está suficientemente destacado da relação e consegue assim ver as duas pessoas.

Capacidade para o Relacionamento

Muitos astrólogos, que em minha opinião deviam saber mais, fazem comentários e juízos de valor acerca dos signos solares, lunares e, para o que lhes convier de "outras posições". Alguns exemplos: "Todos os Virgens são críticos", "Peixes é um signo de preguiçosos", "Netuno em Escorpião mostra adição às drogas", "Lua em Escorpião ou Capricórnio é terrível para uma mulher", "Os homens de Gêmeos têm dupla personalidade".

No que toca aos relacionamentos os juízos de valor tornam-se ainda mais ridículos. Alguns exemplos: "Se o Urano do mapa de um homem fizer aspectos à Lua ou Vênus do mapa da mulher a relação durará pouco", "Sagitário e Capricórnio juntos é uma receita para o desastre no casamento", "Os aspectos de Saturno trazem infelicidade à relação", "os aspectos de Saturno indicam o final da relação".

Embora o acima mencionado seja às vezes verdade, também o é muitas vezes falso! E muitas vezes é irrelevante. Vejamos que existem 12 pontos importantes no mapa (Sol, Lua, Ascendente e nove planetas), existem 144 interações que têm que ser consideradas entre dois mapas em comparação.

Certamente que o assunto é muito mais complicado do que isto, visto que as posições planetárias não são completamente independentes. Os planetas interiores tendem a agrupar-se junto do Sol, enquanto os outros planetas movem-se tão lentamente que é improvável que se cruzem na relação (por exemplo: o Plutão de uma pessoa em oposição ao Plutão da outra). Existem, no entanto, muitos fatores a considerar e acredito que seja errado fazerem-se julgamentos precipitados com base em um ou dois fatores isolados.

Tradicionalmente os planetas em Balança e os planetas na sétima casa, juntamente com o signo, casa e aspectos de Vênus são indicadores nos relacionamentos. Vênus indica a nossa tentativa de alcançar uma compreensão objetiva do mundo exterior e essas tentativas são muitas vezes mais alcançáveis através da interação com outras pessoas, naquilo a que chamamos relacionamentos. No nosso mapa Vênus pode ser descrita como um indicador da nossa capacidade de nos relacionarmos.

De modo semelhante, os planetas em Balança tendem a operar de um modo que é mais cooperativo do que assertivo, e assim podem dar-nos indicações em como a pessoa coopera com os outros. Planetas na sétima casa representam qualidades que são, obviamente, projetadas em outras pessoas e em circunstâncias do mundo exterior, o que faz com que estas pessoas muitas vezes se encontrem a si próprias envolvidas com outros desde muito cedo.

Seria, ainda assim, demasiado simplista ignorar outros planetas, signos e casas. Existem muitas pessoas sem quaisquer planetas em Balança ou na sétima casa, e sem uma Vênus fortemente aspectada. E não são de todo ermitãs!

Podemos argumentar que todos necessitam dos relacionamentos. Pessoas com forte ênfase em Ar, signos/casas/planetas, necessitam de compreender o Mundo através da interação com os outros; pessoas com forte ênfase em água necessitam de se relacionarem emocionalmente; tipos de Terra necessitam de pessoas com quem organizar e construir, enquanto uma ênfase de Fogo impele a uma necessidade de ter com quem competir.

Sinastria nos Relacionamentos

A Sinastria envolve a comparação de mapas de duas (ou mais) pessoas. É mais importante que os mapas sejam compatíveis de acordo com os desejos, crenças e necessidades das duas pessoas (como é mostrado nos seus mapas individuais), do que sejam compatíveis de acordo como alguma teoria abstrata ou coleção de aforismos.

Podemos aprender o significado dos aspectos planetários entre os dois mapas se primeiro compreendermos o que esses aspectos significam num mapa individual, e então entender a idéia de que uma pessoa regra geral expressa um planeta, enquanto um segundo planeta usualmente expressará a outra pessoa.

Por exemplo, Alison tem o Sol em Caranguejo em conjunção com o Saturno de Bill (também em Caranguejo). Num mapa natal uma conjunção Sol-Saturno indica que a vontade consciente é fortemente "inibida" e influenciada, para o melhor ou pior, pela estrutura do Ego. Dependendo de outros fatores (como sempre!), Sol-Saturno pode indicar uma pessoa cujo espírito é "mutilado" por um enorme ceticismo, ou pode indicar uma pessoa de enorme paciência, com engenho e perseverança nos seus objetivos.

Bem e o que pode acontecer num relacionamento? Deixando de lado outros fatores, é possível que Alison tenha tendência a expressar-se carinhosamente, mas Bill também o fará, contudo de modo mais estruturado e menos espontâneo. A interação do Sol de Alison com o Saturno de Bill pode mostrar resultados positivos e negativos (tal como uma conjunção Sol-Saturno num mapa natal). Muito dependerá do tipo de relacionamento - as energias podem expressar-se de maneiras muito diferentes consoante estejamos a ver um casamento, uma relação pai-filha, uma parceria de negócios e por aí adiante.

O Mapa do Relacionamento

Existe um método, e pelo que sei inicialmente descrito por Ronald Davidson em "Synastry" (1977) no qual um mapa individual é delineado para representar o potencial da relação. A idéia é calcular um horóscopo para um ponto intermédio entre os dois mapas e um ponto intermédio no espaço entre os dois lugares de nascimento.

Perante a idéia de que o tempo é linear, podemos facilmente calcular o tempo intermédio entre duas datas de nascimento e tempo (lembre-se de ter em conta os anos bissextos). Ronald Davidson calcula o local para o Mapa de Relacionamento verificando a média das latitudes e longitudes, embora eu acredite que seja mais lógico ver o ponto médio do círculo de interseção dos dois lugares de nascimento. Devemos dizer que quando os dois locais são relativamente perto (com diferenças de poucas centenas de quilômetros) usar o método de Davidson produz melhores resultados e não envolve trigonometria esférica.

Um exemplo simples - A pessoa "A" nasceu a 01 de Janeiro de 1963, às 8:00 GMT. A pessoa "B" nasceu a 02 de Fevereiro de 1967, às 10:00 GMT. 1964 foi um ano bissexto, por isso existe uma diferença de 1493 dias e duas horas entre os dois nascimentos. Metade disto é 746 dias e 13 horas, e dá a data de 16 de Janeiro de 1965, às 21:00 GMT. A pessoa "A" nasceu a 40º N e 90 W, e a pessoa "B" a 42º N e 92 W, o que dá um mapa de relacionamento localizado para 41N91.

Pela minha experiência o Mapa de Relacionamento pode ser usado para descrever a natureza e qualidade da relação em si, sem ter conta à contribuição dos "participantes" (embora esta informação possa ser verificada na comparação do Mapa do Relacionamento com os mapas natais individuais). Os métodos usados na Astrologia Natal, em particular as progressões e os trânsitos, podem ser aplicados ao Mapa do Relacionamento.

O Mapa do Relacionamento pode ser mudado (geograficamente) para onde o relacionamento esteja, tal como um mapa natal pode ser delineado tendo em conta a mudança de residência, quando existe uma diferença significativa para o local de nascimento.

Por:- Achernar

VISÃO DOIS

Um dos aspectos de maior fascínio e que mais perguntas costuma suscitar quando se fala de Astrologia é sem dúvida a questão dos relacionamentos.

E numa fase muito embrionária no estudo ou no interesse pela Astrologia a questão coloca-se sobretudo na comparação de signos. Quantas vezes não ouvimos perguntas do tipo: "os carneiros dão-se bem com os gêmeos ?" e por aí adiante.

Neste aspecto sempre surge à tentativa de clarificar que ninguém é apenas um signo, que quando se fala genericamente de signo se está apenas a apontar o signo solar e que um mapa astrológico é uma combinação de fatores muito mais complexos e dinâmicos.

Que envolve mais planetas, que envolve mais signos, que envolve aspectos (uma espécie de diálogo) e outros fatores, que combinados nos dão então uma espécie de retrato da personalidade, na Astrologia Natal.

E que muitas vezes a pessoa pode ser de um signo (solar), mas que nem é essa a energia mais enfatizada naquele mapa, e que isso tem a ver com uma série de razões, como por exemplo o posicionamento dos outros planetas, que casas estão ocupadas, que aspectos têm mais força, etc.

Este será talvez o primeiro ponto quando a componente dos relacionamentos é assunto na Astrologia, a tal idéia da combinação "quase que fictícia" e "enganadora" de signos.

O segundo ponto a ter em atenção surge num nível mais avançado - e sério - no estudo dos relacionamentos sob a perspectiva astrológica.

E isso acontece quando a análise e potencial de uma relação é trazida ao momento, com o estudo da comparação dos mapas, recorrendo a técnicas como a Sinastria (a análise individual e depois comparativa dos mapas) e o Mapa Composto.

De fato, aqui, entramos num campo mais "elaborado" da Astrologia (natal e relacional). Quando um relacionamento é possível de ser analisado, observado, estudado, sob o prisma astrológico e com ferramentas que contemplam os mapas na totalidade.

Mas antes deste processo e antes que o estudante venha a cair na tentação de uma análise quase microscópica de aspecto por aspecto (o que acontece muitas vezes), fazendo de imediato mapas compostos, trânsitos de relação e deslumbrando-se ou decepcionando-se com cada ponto da sinastria, convém ter em atenção o seguinte:

Antes da emaranhada, e por vezes complicada, análise minuciosa dos pontos comparativos e compostos dos mapas, é antes de tudo importante olhar os campos energéticos de cada mapa.

De que material são esses mapas feitos? Algo tão simples como: que elementos predominam?

Como diz o astrólogo norte-americano Stephen Arroyo, antes de tudo importa referir que somos alimentados pelos vários elementos. Elementos esses que são canais de base na linguagem astrológica. Que são freqüências vibratórias nas quais cada um de nós se sintoniza.

E por isto importa também ver antes de qualquer análise mais elaborada quais as freqüências que maior ênfase têm?

Sabermos que quando o ar (Gêmeos, Balança, Aquário) predomina precisamos de estímulo mental, de alimento intelectual, de variedade, de comunicação, e se for o Fogo (Carneiro, Leão, Sagitário) pode-nos ser mais familiar a energia, o dinamismo, o entusiasmo, a vitalidade, a alegria.

E quando se trata da Água (Caranguejo, Escorpião, Peixes) precisamos de nutrição emocional, de empatia, de sensibilidade, de ligação sentimental. Enquanto a Terra precisa de realismo, de estrutura, de uma sintonia na capacidade de construir, de ter algo sólido.

Na relação, o estímulo dos elementos, a sintonia dos "campos energéticos" de cada um, é um segredo fundamental para o bem-estar e prazer na relação. Mas mais do que isto - e sem pretender complicar o processo - também existe lugar a uma outra coisa: "a compensação".

Sentirmo-nos atraídos por aquilo que não temos ou pensamos não ter.

Por exemplo, imagine que não tem Terra no mapa e sintoniza-se com alguém que tem muito Terra, e isso pode funcionar muito bem, sobretudo se tiver grande ênfase de Água (Terra e Água estão numa sintonia similar, tal como Fogo e Ar).

Pode imaginar isto também para alguém com muito Ar e falta de Fogo, que entra numa espécie de fusão com o companheiro/a, amigo/a, que lhe apresenta todo aquele campo de Fogo, toda aquela vida.

É também incontornável a questão de que "somos atraídos por aquilo que não temos" - e em Astrologia sobretudo com os pares Terra-Água e Fogo-Ar (por serem diferentes mas compatíveis em essência e nas suas qualidades primitivas).

Contudo, Stephen Arroyo defende a idéia de que quando isso acontece, quando essa compensação/atração existe, a mesma ocorre por duas condicionantes fundamentais ao relacionamento:

. Na primeira, em situações em que existe alguma inexperiência (ou juventude) e, por isso, a pessoa é atraída exatamente por quem representa - na sua perspectiva - o que ela não é ou não tem, e que, segundo S. Arroyo, é um processo que representa algum tipo de experiência a aprender.

. Na segunda perspectiva existe maior maturidade na relação e, de certa forma, maior objetividade. E neste caso a questão da "atração pelo que não temos" coloca-se sob o prisma de apreciarmos as qualidades do outro, as qualidades que de alguma forma estão deficitárias em nós.

E esta idéia "do que nos faz falta" ainda ganha maior complexidade e fascínio quando entramos no domínio do jargão psicológico do animus vs anima, ou da luz vs sombra. Um assunto que podemos explorar no livro "Relacionamentos", da astróloga Liz Greene, e que nos remete, novamente, para as noções do "sistema deficitário de cada psique".

No ponto em que a nossa sombra persegue a luz do outro. O que tu tens e o que eu não tenho (ou penso que não tenho).

No livro, Liz Greene refere: "os relacionamentos que contém um elemento de 'apaixonar-se' inevitavelmente contém projeções da anima e do animus, e a curiosa sensação de familiaridade que se tem em relação ao ser amado é facilmente explicável pelo fato da pessoa, na realidade, estar apaixonada por si mesma".

Estes são, todavia, princípios muito abrangentes, e que embora importantes só por si podem também não bastar.

A Astrologia ou a análise de um relacionamento sob a perspectiva astrológica pode ajudar, pode ser um abrir de portas fantástico na forma como nos vemos e vemos o outro, mas não trará certamente qualquer componente de felicidade ao relacionamento que ele já não tenha por si, ou, aliás, como promessa de si.

É ainda essencial ver cada pessoa, e, sobretudo, estar atento à velha premissa "se ela antes de outra coisa qualquer está apta em primeiro para se relacionar consigo", antes de se relacionar seja com quem for ou dizer que a culpa é do Saturno ou do Plutão.

POR:- MOYA

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